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Raiva do automóvel ou como ser um político “popular” sem gastar quase nada – Centro de Engenharia Automotiva da POLI-USP

Raiva do automóvel ou como ser um político “popular” sem gastar quase nada

Por Ronaldo de Breyne Salvagni

A cidade de São Paulo, da mesma maneira que todas as grandes metrópoles do mundo, tem um trânsito infernal. A grande maioria dos países civilizados, entretanto, não tem grandes metrópoles – eles já sabem que os problemas e custos de uma cidade crescem exponencialmente com o seu tamanho, tornando quase impossível prover condições de qualidade de vida minimamente decentes em grandes concentrações urbanas.

Observando apenas o transporte urbano, o que acontece em São Paulo?

Alguns fatos:

– No mês de agosto de 2013, segundo o DETRAN-SP, foram licenciados cerca de 33.000 novos veículos no município e mais de 50.000 no total da região metropolitana. Estes são valores mensais típicos, e crescentes, de modo que temos o acréscimo de 1.700 veículos por dia (600.000 por ano) na Grande São Paulo. Além do impacto ambiental crescente, não há espaço que chegue, nem para estacionar, muito menos para circulação – em algum momento, não muito distante, a cidade vai parar, travada.

– Para um governante, é fácil e não há custo em fazer decretos e leis restringindo a circulação e uso de automóveis. É sempre possível dificultar muito o uso do automóvel particular, a ponto de tornar o transporte público já existente, por pior que seja, uma alternativa preferível. Esse tipo de populismo em geral melhora momentaneamente o trânsito dos veículos coletivos, e recebe o apoio e aplauso das pessoas que não têm carro (obviamente). Entretanto, em seguida, na medida em que aumentar a demanda por esse precário transporte coletivo, suas deficiências vão se multiplicar e exigir novas soluções, com novos custos. Esse novo problema, porém, vai ocorrer no futuro, com sorte só na próxima gestão, e não será problema para o governante atual, que ficará com os louros de ter feitos melhorias – é um bom “negócio político”.

– Faz parte da natureza humana a tendência de pessoas com ideias semelhantes (certas ou erradas) se agruparem em torno delas. Assim, há pessoas que não simpatizam com (ou até odeiam) automóveis, seja por um viés algo “pseudo-ambientalista” (poluição, etc.), seja por um viés de “luta de classes” (o automóvel é um “símbolo da burguesia conservadora e neoliberal”). Há mesmo organizações que combatem o automóvel com considerável ativismo e influência, tendo conseguido até criar um “Dia Mundial Sem Carro”, com adesão de apoiadores e oportunistas em todo o mundo, inclusive em São Paulo.

Quando estes três fatos se juntam, numa cidade com trânsito caótico, com governantes imediatistas que não querem gastar nada e preferem ações paliativas, porém populistas que rendem dividendos eleitorais imediatos, e governantes esses assessorados por simpatizantes ou ativistas de movimentos “anti-automóveis”, temos a pior situação possível. Rodízios, faixas exclusivas de ônibus, proibições de circulação, etc., são paliativos que aliviam momentaneamente, mas não resolvem nada de fato – apenas jogam os problemas para mais tarde. Essas medidas autoritárias restringem a liberdade dos donos de veículos, tornam pior a qualidade de vida desses cidadãos e os obrigam a migrar para o péssimo serviço público.

A solução real, honesta e responsável para o problema do trânsito é complexa, mas começa pelo poder público oferecendo ao cidadão algumas alternativas de transporte eficientes, confortáveis e rápidas, por si só equiparáveis ao automóvel de uso particular. Só depois disso caberiam medidas restritivas ao uso do automóvel, como proibições de circulação e cobrança de pedágio urbano. Há alternativas ao automóvel particular para o transporte urbano de pessoas. Além dos convencionais veículos coletivos, como ônibus e metro, há soluções como frotas de pequenos veículos individuais, de propulsão elétrica (ou até bicicletas, para cidades planas com pouca chuva), de uso público, em que o cidadão pode ir até o bolsão de estacionamento mais próximo, pegar um desses veículos e ir até o seu destino, deixando o veículo no outro bolsão próximo a ele. Em todos os casos, essas alternativas devem oferecer o máximo de condições de praticidade, conforto e rapidez, o que implica em todas essas alternativas terem custos de implantação e manutenção.

São Paulo precisa, antes de mais nada, melhorar o seu transporte público, coletivo ou individual. A cidade não merece ações governamentais apenas eleitoreiras – precisamos de soluções reais.

Vamos torcer para que os governantes pensem na cidade e atuem de forma não demagógica e populista, mas sim de forma competente e responsável.

Oremos.

Ronaldo de Breyne Salvagni é engenheiro naval, doutor em engenharia, professor titular da Poli-USP e coordenador do Centro de Engenharia Automotiva (CEA) da Poli.

* Este artigo foi publicado originalmente no site do jornal Folha de S.Paulo (especial Mobilidade Urbana) no dia 11/10/2013

 


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